Aceitando o
desafio do JRP do
Comboio Azul, fica aqui a descrição do sonho do meu primeiro golo com a mítica camisola azul e branca:
Última jornada do campeonato… no Estádio das Antas, F.C.Porto e Benfica discutem a vitória na prova até aos últimos instantes. O empate basta aos vermelhos… só a vitória interessa ao Porto. Depois de 85 minutos de futebol intenso e vibrante… o jogo caminha célere para o fim com um teimoso nulo no marcador. 90 mil incansáveis e indefectíveis portistas teimam em motivar a equipa com os seus apelos de vitória mesmo debaixo de um temporal arrasador… mas aos poucos a descrença vai tomando conta dos jogadores azuis e brancos. Artur Jorge, está de pé… pela primeira, e única, vez na vida grita para dentro do campo... mas as forças escasseiam. O Rei Artur olha para o banco e consegue pressentir a derrota nos olhos de quem nada pode fazer senão chorar. Urge fazer algo… Eriksson vai colocar mais um defesa. O treinador do Porto faz um sinal para os jogadores em exercício de aquecimento. Um burburinho ecoa pelo estádio que vai aumentando à medida que o escolhido vai correndo para o banco. Os adeptos movimentam-se curiosos e a incredulidade instala-se no estádio.
- Quem é aquele gajo?
- É um júnior.
- Júnior??? Foda-se… o treinador enlouquecer, era mesmo só o que nos faltava!
A placa com o número 3 é levantada, seguida de outra com o número 13.
Chegam os dedos das mãos para contar os adeptos que sabem o nome do jogador número 13. Na instalação sonora do estádio, ouve-se:
- Substituição no F.C.Porto com o patrocínio das Tintas Barbot: Sai com o número 3, Inácio… para entrada do número 13…
Um silêncio ensurdecedor estarrece o estádio, enquanto a voz procura nas suas notas o nome do jogador com o número 13 cosido nas costas:
- … para a entrada do número 13… Aníbal Letra!
Ao passar por Aníbal, Inácio cumprimenta-o e diz-lhe:
- Diverte-te… Puto!
Aníbal entra nas 4 linhas e não sabe se o que lhe escorre pela face são gotas de chuva ou lágrimas de felicidade. Levanta a cabeça e vê-se rodeado por personagens que o fitam incrédulos. Alguém o puxa… Gomes, o Capitão está à sua frente… o ídolo e mestre, despenteado e completamente encharcado, diz-lhe aos berros:
- Joga simples, caralho!
Sem bola, Aníbal não sabe para onde correr… parece que está sempre a mais. Vai colocar-se atrás de Gomes… mas o seu nervosismo não lhe permite sequer tocar no esférico.
Olha para o banco do Benfica e Eriksson avisa aos jogadores que já passa da hora. De repente, algo muda: Os 90 mil portistas, praticamente derrotados… a verem o título fugir para o eterno rival não desistem e gritam em uníssono:
- POR-TO! POR-TO! POR-TO! POR-TO!
Lima Pereira manda uma charutada da defesa… que vai exactamente na direcção de Aníbal Letra. Ele mata a bola no peito e cola-a no chão… rodopia e vê-se de frente com Carlos Manuel. Simula uma finta mas dá a bola a Gomes que de primeira devolve a Aníbal… um espaço vazio pode ser aproveitado. Arriscar ou jogar pela certa? Não é altura para vacilar… Aníbal fura e ultrapassa em velocidade Carlos Manuel. Gomes já está mais à frente a pedir a bola vigiado de perto por Ricardo Gomes… Jaime Magalhães corre pela direita levando Álvaro com ele, Futre do lado contrário tem no seu encalço Veloso. No seu caminho para a baliza, Aníbal tem Mozer… ”Diverte-te… Puto! “, lembra-se das palavras de Inácio. Enche o peito de coragem e vai enfrentar o gigante. Aumenta de velocidade e corre em direcção a Mozer que dá indicações a Ricardo Gomes para vigiar o Bi-bota. No relvado ainda se ouvem os ecos de “POR-TO! POR-TO”, mas os adeptos agora estão calados e seguem a jogada com expectativa.
Mozer na meia-lua da grande-área espera confiante… Aníbal simula o passe a Gomes mas coloca a bola pelo meio das pernas do gigante Brasileiro indo buscá-la ao outro lado. Ele está na grande-área… após o abate do gigante, apenas Silvino está entre a bola e as redes… entre a vitória e a derrota… entre a felicidade e a tristeza. Os adeptos levantam-se… “Vai puto!”, “Tu consegues!”… Aníbal tira os olhos da bola e controla a posição do guarda-redes, leva o pé direito atrás e chuta… não sabe se bem, mal ou mais ou menos… algo muito mais grandioso controla o destino da redondinha. Silvino estica-se para detê-la mas não vai lá… só as redes param o movimento da bola… É GOLO!!!! Aníbal corre sem destino… fecha os olhos… e faz sons imperceptíveis. Quando abre os olhos… sente o céu! Milhares e milhares de pessoas saltam, gritam e abraçam-se… o banco portista está eufórico enquanto Artur Jorge, sentado no banco vai tomando notas. Os colegas perseguem-no insistentemente enquanto ele só pensa nos adeptos… só pensa na felicidade deles… na sua felicidade porque é um deles!
Finalmente os colegas de equipa alcançam-no e atiram-no para o relvado…
- Oh Aníbal, acorda!!! Não tens aulas hoje?